28.7.07

Until Death?

4:02 da manha de uma sexta. Sentada na frente de um computador. Terminando um projeto. Aparentemente bebado. Ele me liga.

- Ta ouvindo o que?

- Ouvindo o som das minhas pálpebras quase se fechando misturado com a última música do Snowblind.

- Ja pensou em casar em Las Vegas?

Hoje de manha abro o meu email e para minha surpresa um atestado de óbito da sua própria serenidade escrito as 6:20 da manha. O que explica a loucura, talvez a falta dela. Mas quem disse que existe explicação para isso?

Leonardo Gomes, único, morreu na noite passada por complicações na perda de sua serenidade. Ele tinha 26 anos. Criativo e intenso, qualidades fortemente expressadas nas suas paixões. Só, que nos fins dos dias, ele revelou um quadro diferente de sua personalidade. Essa “pessoa” escondida mais parecia com Joyce Reynolds em A Noite das Bruxas de Agatha Christie. Escrito em 1969. A eterna busca pela serenidade terminou de forma trágica. Mesmo ciente da derrota, acreditou que nada disso era um acidente ou coincidência. Perguntado sobre a morte da serenidade do amigo, Fernanda, descreveu Leonardo como sendo a prórpia respiração, algo intenso que está sempre ali ao seu lado e surpreende quando você simplesmente para pra perceber. Fernanda também notou que ultimamente, Leonardo, concluiu que se nós quisermos viver em harmonia com o universo, nós temos que possuir fé naquilo que se chamava de “fatum”. E que nós hoje, chamamos de DESTINO.

22.7.07

New Kite

Eram 11:00 hrs da noite de domingo. A voz dele no telefone parecia de uma criança que acabou de ganhar o melhor Comandos em Ação de todos. Contando todas as aventuras e viagens que poderia fazer com ele. Foi assim. Ele e o novo Kitesurf dele. Se essa ligação fosse em uma sexta, até entenderia a empolgacao. Mas em um domingo as 11:00hrs da noite? Confesso que me animou também. Sabia exatamente o que ele estava sentindo. Senti o mesmo quando comprei o meu. Como diz: Ele foi mordido pelo Kite. E que bom que foi pelo Kite.

Isso me lembra um acontecimento interessante. Foi em um almoço na casa da mãe dele. Que por sinal, torço para que o filho tenha o mesmo dom. Por que se tiver, é daqueles que a gente amarra e não solta. A mãe, um pouco preocupada com um outro acidente dele, apenas o abraçou e perguntou:

- É perigoso? Sabe como é. Você uma vez me apareceu com as 2 pernas quebradas. Quero saber se vou passar por aquilo de novo.

E ele com tranquilidade e convicção respondeu:

- Não mãezinha. Pode ficar tranquila que Kite não vai me quebrar daquele jeito de novo.

Confesso que o de novo no final da resposta me soou como uma coisa "normal" quebrar a perna em mais de mil pedaços e ter vários ferros ao invés de ossos.

De qualquer forma, não estou aqui pra dizer se é perigoso ou não. Estou aqui apenas para mostrar um filme na praia onde o Erick Eck pegou uma termal e subiu mais de 100 metros terra adentro. E o detalhe, o Kitesurf não estava engatado. Isso quer dizer, ele estava segurando na barra apenas com o braço. Mas por incrível que pareça, não quebrou absolutamente NADA. Me pergunto se ele falou a mesma coisa que o Leo para a mãe dele.



14.7.07

26. Redondos.

É fantástica a rapidez com que a gente esquece, até mesmo coisas que você acha que sabe, até mesmo coisas que você quer muito guardar. É fantástico como a memória funciona e se recusa a funcionar. Um rosto pode ser uma pagina em branco. Mas assim como eu me lembrei do que ele pediu na terceira vez que saimos, de vez em quando há coisas, como rostos e memórias, que surgem sozinhos e com tanta clareza que, mesmo querendo, seria impossível não ver. É muito louco.

É interessante também o jeito como a gente fala sobre fotografia, que uma fotografia foi tirada. Ainda consigo ver como essa foto foi tirada. Ele parou do meu lado, se mexeu todo pra procurar um ângulo, olhou pelo visor, tirou o olho, deu um sorriso e falou: Fica me olhando e não se meche. Naquele momento, não me mechi.

Consigo ver o que eu estava vendo naquela hora. E foi somente um instante daquilo que ele viu, literalmente, pelo minúsculo visor da maquina. É fantástico pensar nisso dessa forma, eu, fixa daquele jeito, olhando pra ele como se fosse para sempre, mas na verdade tudo não teve uma fração de segundo de duração dentro da cabeça dele. O cativante é que uma fotografia é para sempre. A gente se olhando, virou eterno. Mas no fundo, é uma prova, de que nada dura mais que uma fração de segundo.




Parabéns.

11.7.07

Cancêr

Eu nasci com o sol em câncer... Durante um sábado... Interrompi o espetáculo...

Eu nasci no ano em que teve o maior numero de divórcios. Onde as pessoas começaram a enxergar uma vida depois de outra vida... E ali eu enxerguei a primeira vida... Abri os olhos... Era tudo em cores...

Foi quando Carlos Drummond publicou Contos Plausíveis... Onde alguns dizem que são contos sem pé nem cabeça... Mas eu estava ali... Com pé e cabeça... Um pedaço de conto... Vivo...

E foi sim... Foi bem no dia, 11 de Julho de 1981, que João Paulo II levou 3 tiros em plena Praça São Pedro no Vaticano... Não morreu... Naquele dia, 11 de julho de 1981, ele viveu. Eu também.

8.7.07

Impressão da Expressão

L'esprit de l'escalier. Engraçado. Mas um engraçado sarcástico. E o pior. Um sarcasmo de si mesmo. O que me gera uma sensação, de certa forma, boa.

Aquele exato momento em que você termina uma conversa que, literalmente, ficou sem poder de ação. Sem palavras. Apenas olhando pra baixo e ouvindo. Sem nenhum insight pra sair uma única palavra que possa amenizar a situação. As palavras vão te enterrando e tem até um momento que elas começam a se embolar na sua cabeça. Onde ouvir, cansa. Cansa porque é muita informação que você perde até o rumo. E simplesmente você vira as costas e vai embora.

E eu to falando deste exato momento. O qual vem exatamente àquela inspiração e você pensa no que podia ter dito. E a resposta cairia certinha. Um desarme. Tudo o que você precisava. Mas infelizmente, ela veio 20 minutos depois.

Um francês chamado Diderot, no seu livro Paradoxe sur le Comédien, utilizou uma expressão que cai exatamente nessa situação, l'esprit de l'escalier. Que numa tradução ao pé da letra significa o espírito da escada. Que é quando você vai embora, descendo as escadas, você pensa no que podia ter dito. O espírito da escada é a frase que teria decidido à discussão se não fosse pelo fato de já ser tarde demais.

Que bom que isso não acontece só comigo. Algo a dizer?

3.7.07

03.07.07 - Terça

"Melhor do que surpreender os outros, é surpreender a si mesmo"